O centro histórico de Lucca protegido pela muralha intacta. |
Caminhar pelas ruas estreitas e tortuosas. Visitar as numerosas igrejas. Admirar a cidade do alto de suas torres ou de sua muralha. Perceber suas cores: o branco dos mármores das igrejas, o vermelho-alaranjado dos palácios dos séculos XIII-XVI e as pedras cinzas da pavimentação. Passear no centro de Lucca torna-se uma excitante viagem no tempo e na história, evidenciada pela sua integridade.
Podemos escolher qualquer uma das seis
grandes portas que levam ao interior da cidade histórica. Podemos até
dizer que é uma para cada dia da semana. E no 7º dia, embriagados por tanta
história, podemos ficar descansando lá dentro. Depois, é só respirar fundo. E tomar fôlego para voltar ao século XXI.
Vamos lá! Se preferir começar seguindo um roteiro, para depois se abandonar aos inúmeros chamados naturais de cada ruela, preparamos duas sugestões que reúnem as principais atrações de Lucca. Siga pelo mapa.
ENTRANDO PELA PORTA ELISA
Porta San Gervasio, ainda da antiga muralha medieval. |
Cruzando a Via del Fosso, mais uma parada:
vamos observar a Porta San Gervasio.
Porta? Isso mesmo, hoje parece um arco mas foi uma porta! Uma das únicas duas portas ainda existentes da antiga muralha medieval . Parte das ferragens do antigo portão levadiço ainda podem ser vistas. O arco tem 8 metros de altura, reforçado por dois torreões decorados com calcário branco. Hoje, uma dessas torres abriga parte das acomodações mais elegantes do Hotel Ilaria .
Porta? Isso mesmo, hoje parece um arco mas foi uma porta! Uma das únicas duas portas ainda existentes da antiga muralha medieval . Parte das ferragens do antigo portão levadiço ainda podem ser vistas. O arco tem 8 metros de altura, reforçado por dois torreões decorados com calcário branco. Hoje, uma dessas torres abriga parte das acomodações mais elegantes do Hotel Ilaria .
Passando o arco, estamos em Via Santa Croce e você já deve estar
se perguntando: "Lucca não é cheia de igrejas?" Pois é. Você pode não
ter percebido, mas em pouquíssimas quadras já passamos por duas e agora
chegamos na Igreja de Santa Maria Bianca(=branca, em função
da cândida imagem que está no altar-mor), localizada na Piazza S.Maria Forisportam (= fuori porta = fora
porta). Esse nome vem do fato de que até o fim do séc. XIII a igreja se
encontrava fora da muralha romana, ainda mais antiga.
Ainda nesta praça podemos ver uma coluna antiga, de granito oriental com
capitel coríntio, chamada Colonna Mozza, que no
período medieval marcava a chegada da corrida pelo "palio"
(prêmio), disputada do lado externo da muralha romana. Ao longo
dos anos "palio" passou a ser o nome da própria corrida e a mais
famosa é certamente aquela dos "berberes", os cavalos sem ferradura,
cuja largada era dada fora da praça S.Donato e que numa corrida
desenfreada, cruzavam a cidade a toda velocidade através da Via S.Paolino,
Piazza S.Michele e Via S.Croce, para chegar até a Colonna Mozza. A
corrida era tão disputada que muitos personagens ilustres, como Lorenzo - o
Magnífico, mandavam seus cavalos na esperança de ganhar a disputa, mais pelo
prestígio do que pelo prêmio.
Aqui, do lado esquerdo, está a Via della Rosa, cujo nome vem da
esplendida Chiesina della Rosa, assim chamada
devido a flor na mão da Virgem, no interior da igreja, construída em torno de
1300 pela corporação dos mercadores, sobre os fundamentos de uma capela ainda
mais antiga. Atualmente a igreja é fechada para o culto, mas preserva em sua
construção parte da primeira cinta murada de Lucca.
Torre Guinigui |
A pedra envergada no Palazzo Bernardini |
Bem, 'pra descer todo santo ajuda' e para não perder o foco, seguimos
novamente para a Via Santa Croce. Um pouco mais adiante, no lado esquerdo, está o Palazzo Bernardini, do início de 1500. Até o final dos
anos 1800, no páteo podiam ser vistos maravilhosos mármores romanos e
medievais, provenientes de vários templos de diferentes épocas. No andar nobre
havia uma riquíssima decoração com valiosas pinturas, mobílias, armas, louças,
tecidos e tapeçarias. De toda a riqueza passada restaram apenas um restaurante que funciona ali e uma lenda. Uma das pedras da janela do lado direito do portal mantem-se estranhamente torta, envergada como se fosse madeira, com uma das extremidades insistindo em não fixar-se à parede.
Foi substituída várias vezes, acontecendo sempre a mesma coisa. A lenda diz que esta pedra, conhecida como pedra do diabo, é uma lembrança da destruição da imagem sagrada que ficava no mesmo lugar, antes do palácio ser construído.
Pronto! Mais alguns passos e chegamos a uma difícil escolha: a tentação de
virar à direita e seguir pela famosa e elegante Via Fillungo! Mas ainda não
vamos nos 'perder' nela... à esquerda está a Via Cenami, nome de uma
importante família que possuia casas e torres na cidade, condados,
terras e palácios. Alguns descendentes desta família ainda moram em Lucca. E
nós? Bem, nós vamos seguir pela Via Cenami até a Piazza
S.Giusto, cuja igreja foi sede da Università dei Mercanti (Universidade
dos Comerciantes), até o séc. XIII, quando foi transferida para San
Cristoforo, na Via Fillungo. Do lado direito, saindo da igreja, se
encontra o Palazzo dei Gigli, do início do séc.
XVI, hoje Cassa di Risparmio di Lucca (='Caixa Econômica'). Em frente a igreja,
o Palazzo Bertolini que foi sede do
gabinete do Comune di Lucca até 1837. Nesta praça, na Lucca de 1700, ficava o
"Caffè Pucci", que foi provavelmente a primeira loja de café de
Lucca.
Detalhe da fachada do Duomo de Lucca. |
Volto Santo, a grande devoção de todos os lucchesi. |
Duas
grandes preciosidades do patrimônio de Lucca estão aqui.
Numa capela
lateral está o famoso monumento funerário a Ilaria del
Carretto, esposa de Paolo Guinigi, obra prima de Iacopo della Quercia, de 1408.
E na nave esquerda do Duomo, num pequeno templo, está a
antiquíssima e penetrante imagem do Volto Santo, desde 1107. A
tradição diz que esta escultura representa o verdadeiro rosto de Jesus.
Lenda? Fato real? Talvez a resposta esteja na medida da fé de cada
um. Mas com certeza a linda história do Volto Santo (veja na Galeria de
Imagem) faz parte, há séculos, do DNA de todo e qualquer 'lucchese'!
No interior da igreja podemos ver também interessantes representações dos meses do ano: janeiro se aquece no fogo, fevereiro pesca, março aperta um parafuso, abril tem uma flor na mão, maio com uma flor na mão galopa, junho colhe o grão, julho bate o grão, agosto colhe frutos de uma árvore, setembro pisa a uva numa tina, outubro entorna o vinho num barril, novembro guia um arado de bois e dezembro esquarteja um porco.
Monumento funerário de Ilaria del Carreto. |
No interior da igreja podemos ver também interessantes representações dos meses do ano: janeiro se aquece no fogo, fevereiro pesca, março aperta um parafuso, abril tem uma flor na mão, maio com uma flor na mão galopa, junho colhe o grão, julho bate o grão, agosto colhe frutos de uma árvore, setembro pisa a uva numa tina, outubro entorna o vinho num barril, novembro guia um arado de bois e dezembro esquarteja um porco.
O Duomo pode ser visitado das 10 às 15 horas, de novembro a março, e das 10 às 18 aos sábados e domingos. De abril a outubro o horário é das 10 às 18 horas, todos os dias. Durante as missas é proibida a visitação turística.
Depois de absorver um pouco da força que está impregnada por séculos de
história no interior do Duomo, voltamos para a Piazza
e podemos pegar a Via del Molinetto, para contornar
por trás do Duomo e retornar para a Via del Fosso. Estamos próximos dos
jardins do horto botânico. Dependendo do
horário, ainda dá pra descansar um pouco por ali...
ENTRANDO PELA PORTA SANTA MARIA
Entrando por esta porta, estamos na Piazza S.Maria, exatamente onde termina a famosa Via Fillungo. Muito próximo, pode-se também entrar pela Porta S.Jacopo e pegar a Via Michele Rosi. Após passar pelo arco da Porta dei Borghi, uma das duas portas medievais remanescentes, também chegamos no fim da Via Fillungo.
A agitada Via Fillungo no repouso da noite. |
Ah! Depois dizem que ' todos os caminhos levam a Roma'! Só se for depois de passar pela Via Fillungo...
Agora estamos na principal artéria da vida 'lucchese', onde há séculos e séculos bate mais forte o coração da cidade. O próprio nome é muito antigo. Tem sua origem no Castello de Fillongo, na Garfagnana, onde a família Falabrina, que tinha suas casas na via Fillungo, exercia seus direitos de feudo. No século passado foi também escrito como 'Fil-lungo' (=fio longo), pela característica forma da rua, comprida e reta. Ela 'se desenrola' por cerca de 700 metros e atravessa o centro histórico de Lucca, fazendo parte da antiga estrutura viária romana.
No passado esta longa e charmosa rua era dividida em três partes. O trecho da Porta Santa Maria era via Grande e até chegarmos ao cruzamento do Vicolo S.Frediano e da Piazza Scalpellini, ainda é um pouco tranquilo. Aqui, olhando pelo Vicolo, abre-se o maravilhoso panorama dourado do mosaico da igreja de S.Frediano, que antes da consagração de S.Martino, era a Catedral de Lucca. Cristo e os apóstolos estão representados, junto com dois anjos, no mosaico de sua fachada. Inicialmente, o Volto Santo ficava aqui. E até hoje, há mais de mil anos, em todo 13 de setembro, é daqui que partem os participantes da procissão da Luminara di Santa Croce.
A procissão de Santa Croce com a Igreja de S.Frediano ao fundo. |
Logo atrás da igreja
de S.Frediano, entrando à direita na Via degli Angeli, está o PalazzoControni-Pffaner, de 1660. Originalmente, moradia da família
Moriconi, importante comerciante de seda. Passou depois a ser propriedade dos
Controni que cuidaram de ampliá-lo. Passado mais de um século,
quando o cervejeiro austríaco - Pfanner - o comprou. Seus herdeiros
mantêm a propriedade até hoje e parte dos salões, alguns quartos e uma típica
cozinha de época, além do maravilhoso jardim, estãos abertos a visitação. Por
isso talvez seja interessante voltar com uma horinha especialmente
dedicada a ele e poder conhecer a exposição de equipamentos e instrumentos
médicos do doutor Pietro Pfanner, do final dos anos de 1800, ou
'desfilar' na escadaria e nos jardins como Nicole Kidman e John Malkovich,
que estiveram por ali gravando cenas do filme Retratos de uma Mulher, em 1996.
Na esquina da Piazza S.Frediano está o Palazzo
Mansi, do séc. XVI. A família Mansi já era muito conhecida e apreciada na
Europa, antes do séc. XVI, por causa da seda que produzia. Esta família
tornou-se ainda proprietária, em 1600, de uma maravilhosa Villa nas imediações
de Lucca.
Piazza del Anfiteatro |
Das quatro portas de entrada para a Piazza, só uma, a mais baixa, continua
exatamente igual, sendo um dos acessos originais. Hoje, o piso da praça está
elevado cerca de 3 metros em relação a arena romana, que era composta por 54
arcadas e tinha capacidade para 10 mil espectadores! Nas escavações feitas em
1800 foi descoberto o piso da arena e o pavimento da entrada principal.
Na saída pela Via Canuleio, que une o
Anfiateatro a Via Mordini (conhecida como Via
Nuova) pode-se ter a mais típica visão de postais da Torre Guinigi,
enquanto que saindo pela Via Del Pórtico, chega-se a Via Busdraghi, cujo nome deriva do Palazzo Brancoli Busdraghi, do séc. XVI,
onde atualmente funciona um hotel 4 *, com apenas 7 charmosos quartos.
Bem, as tentações de
mudar de rumo são muitas, mas a encantadora Via
Fillungo nos espera e nós nem bem começamos a desvendá-la. Continuando por ela,
vamos chegando ao ponto onde Lucca é capaz de nos dominar em
todo e qualquer sentido. Pelo visual das construções preservadas, pelo
movimento de pessoas e bicicletas, pelos aromas dos cafés e dos crocantes
de amêndoas e avelãs, pelas lojas elegantes, pelo sabor dos sorvetes, pelo som
alto, alegre e até exagerado das conversas.
Na nossa caminhada vamos passar pela Via degli
Angeli com o Palazzo Boccella, depois Conti, do
séc. XVI. Na Via Fontana está o Palazzo Fatinelli, que tem do lado de fora um poço
que dizem de Santa Zita, em referência ao milagre ilustrado no baixo-relevo
externo do poço.
E a Via Buia (escura)?
Característica rua medieval, onde nasceu o músico Luigi Boccherini, que
antigamente chegou a lhe dar o nome (Via Boccherini). Mas o fato de estar
cercada por altas construções e o sol só conseguir iluminá-la
quando está à pino foi mais forte, daí, o nome Via Buia venceu!
Torre delle Ore |
Os 207 degraus para se chegar até o alto ainda são em madeira e
perfeitamente conservados. Talvez idênticos ao tempo em que Lucida Mansi
os escalou em fúria, na esperança de parar o relógio e com isso parar o
tempo (conheça a lenda na Galeria de Imagens). A Torre é aberta
ao público e de lá se tem uma linda vista da cidade. O
atual mecanismo do relógio e os números romanos do quadrante foram
parte das reformas de 1754.
Em frente à Torre está outra curiosidade de Lucca: a Chiasso Barletti. No passado, Chiasso significava uma
rulea curta e estreita, pouco frequentada, muitas vezes mal pavimentada e suja.
Atualmente esta é a única rua em Lucca que continua denominada
por 'chiasso' e que manteve quase intacta a sua fisionomia de ruela
medieval, com as típicas lojas (mas sem sujeira e sem mal cheiro). O nome
Barletti é de uma poderosa família do 1300, extinta em 1360.
Detalhe da fachada de San Cristoforo. |
No lado esquerdo da fachada ainda restam as barras que serviam
para determinar o comprimento dos pentes e teares para os tecelões
das sedas 'lucchesi'.
Atualmente esta igreja é fechada ao culto, ou seja, ela é desconsagrada. Mas
sedia numerosas manifestações culturais, como concertos e mostras de arte. Sedia também uma lenda, folclore, crença ou pura paixão de uma vida ali vivida em outras
encarnações e que se perpetua neste endereço - Via Fillungo
6. Cada um que tire suas conclusões sobre esse intrigante lugar.
Depois de percorrer a longa Via Fillungo e saborear a deliciosa movimentação
das últimas três ou quatro quadras vamos seguir à direita pela Via Roma. Esta rua nos levará a Piazza San Michele. Mas
antes repare nas pessoas (na maioria homens de mais idade) sentadas nos degraus
do Palazzo Cenami. Este costume remete há mais de dois
séculos. E os 'lucchesi' acabaram batizando, curiosamente, essa tradição
de SAVAS - Società Anonima Vagabondi A Spasso (sociedade anonima vagabundos a passeio)!
Agora, entre lojas, cafés, turistas (e se for setembro, muitas e
deliciosas barraquinhas), chegamos na Piazza San
Michele, onde era o Foro, a mais importante e relevante praça da Lucca medieval
e onde instalou-se a primeira sede da prefeitura. Por volta de 1300, essa praça
serviu também como mercado, principalmente de grãos, e era tida em tão alta
consideração que nas suas imediações era proibido manter porcos, mesmo que
fossem apenas para serem comercializados.
Mais tarde, a praça
foi ampliada e alí se instalaram sedes de bancos de cambistas e
empresas de comerciantes de seda. Em 1400 foi pavimentada com tijolos e no
início de 1700 começaram as obras para levantar o piso em dois degraus,
pavimentá-la com calcário branco e delimitá-la com pequenas colunas unidas por
correntes em todo o seu perímetro. O monumento a Francesco Burlamacchi
(importante político de Lucca na primeira metade de 1500), obra de Ulisse
Cambi, ocupa seu posto na praça desde 1863.
Nesta grande praça, mais um café ou um sorvete. Mas se for setembro,
imperdoável que não seja um delicioso 'frate' da barraquinha do Nelli
(detalhes dessa especialidade em 'sabores especiais'). E então é chegada
a hora de admirar a Chiesa di San Michele.
A igreja atual é uma reedificação iniciada por volta de 1070 e continuada até o
século XIV. A sua torre era mais alta do que a torre da fortaleza Augusta, que
servia para trocar sinais com os pisanos, e o som de seus sinos
era ouvido até em Pisa.
Na parte mais alta da
igreja, a imponente estátua do Arcanjo Miguel, vitorioso sobre o dragão. A
estátua, em mármore branco, tem cerca de 4 metros de altura. As penas das asas
são em metal. E se não bastasse a grandiosidade da própria imagem, um
encanto extra: dizem que no anel que o santo traz no dedo tem um diamante
incrustrado, doado por algum fiel. O fato é que, de noite, de um determinado
ponto da Piazza San Michele, perto da Banca Commerciale, ou mesmo em frente a
entrada do cinema Central na Via del Poggio, observando o Arcanjo, é possível
perceber um estranho cintilar!
A Chiesa di San Michele fica aberta das 7h30 às 12h30 e das 15 às 18 horas. Durante os
horários de missa não é permitido visitas turísticas.
Agora seguimos pela Via Beccheria ou pela Via Vittorio Veneto -
ambas saem da Piazza San Michele - para desfrutarmos a grande Piazza Grande ou Piazza Napoleone, literalmente
aberta, em 1806, em frente ao Palazzo da princesa Elisa Bonaparte Baciocchi.
Isso mesmo: aberta, pois para que o palácio ficasse mais visível e arejado,
Elisa ordenou que demolissem várias construções medievais para a abertura
da praça. Nesta obra perdeu-se , por exemplo, a igreja de San Pietro
in Cortina (o Maggiore), de 1588, e a antiga torre da 'Zecca di
Lucca'. E para esconder a fachada das construções que restaram, ela
encomendou que se plantasse uma fileira de altas árvores. Estes
plátanos estão alí até hoje e, provavelmente, você vai curtir um pouco da
sua sombra enquanto admira o lugar. O projeto previa um monumento para Napoleão
no centro da praça. O nome ficou, mas quem ganhou um monumento foi Maria Luisa
de Bourbon, duquesa de Lucca, de 1815 a 1824, após a queda de Napoleão.
Mas o que pode tornar
essa praça ainda mais fascinante não está em sua superfície. E ainda não pode
ser visitado. Em recentes obras de manutenção da área, foram descobertos túneis
de fuga sob a praça, em perfeitas condições. Além da técnica usada, outros
indícios como o tipo de tijolos usados, levam a crer que esses túneis eram vias
de fuga preparadas sob o comando de Castruccio para eventuais ataques inimigos.
Piazza Grande (ou Napoleone) fechada por árvores e Piazza del Giglio em frente a fachada rosada do Hotel Universo. |
Portanto, por enquanto, o destaque da praça fica por conta do Palácio Público, que depois foi Palácio Ducal e hoje é Palácio da Província, conhecido como Palazzo Ducale. Essa construção surgiu sobre a área do castelo da Fortaleza Augusta, abatida pelo povo em 1369. Foi reconstruído e em 1430 foi residência de Paolo Guinigi. Em 1539 um raio causou grandes prejuízos e só foi restaurado em 1728, por Nottolini, atendendo as exigências dos Bourbon. Em 1866 foi cedido para a administração da Província. Atualmente, abriga a sede da prefeitura, a administração da Província, a Corte d'Assise e a Accademia Lucchese di Scienze, Lettere e Arti.
Do lado esquerdo da Piazza está a Via XX
Settembro e a Corte Paoli. A cidade do Império Romano está
consideravelmente soterrada - cerca de 2,5 a 3 metros - em relação ao terreno
atual de Lucca. A parte mais alta é justamente aqui, na Corte Paoli, nome da
família que foi a antiga proprietária do palácio que hoje é sede do Hotel Universo.
Teatro del Giglio |
Neste teatro, em 1831, Rossini teve seu primeiro sucesso italiano com Guilherme
Tell e, nesta mesma apresentação, fazia parte da
orquestra Niccolo Paganini!
No início do século XIX o Teatro Giglio disputava grandes espetáculos em igualdade com o Teatro della Scala, de Milão, e o San Carlo, de Nápole.
Cheque a programação. Encontre Puccini...assista a uma ópera.
No início do século XIX o Teatro Giglio disputava grandes espetáculos em igualdade com o Teatro della Scala, de Milão, e o San Carlo, de Nápole.
Cheque a programação. Encontre Puccini...assista a uma ópera.
No centro da praça está o monumento a Garibaldi, de 1889, obra do escultor
Urbano Lucchesi.
Se pegarmos a Via Vittorio Emanuele e
entrarmos à direita na Via Galli Tassi encontraremos o Palazzo Mansi, raro exemplo das mansões do 1500.
Desde 1977 é sede de um dos mais importantes museus de Lucca, a Pinacoteca Nacional. Entre. Aí estão conservados os
aposentos monumentais do andar nobre, com salas repletas de afrescos e o famoso
comodo dos noivos, do século XVIII. Na Pinacoteca se encontram quadros de
mestres como Pontormo, Bronzino, Andrea del Sarto, que vão do início de 1500
aos primeiros anos do 1700. Ainda no interior do museu, no mezanino, está uma
oficina de tecelagem artesanal.
Voltando para a Vittorio Emanuele, chegaremos ao Piazzale Verdi, onde no passado se encontrava o palácio
de verão dos marqueses da Tuscia. Essa zona, com o passar do tempo, ficou
conhecida como "Prato del Marchese" (pradaria do marques) e por volta
de 1800 era onde se realizavam espetáculos e corridas. Foi então que a família
Nottolini construiu alí um anfiteatro de madeira que podia acomodar 3500
pessoas.
O anfiteatro foi derrubado e hoje em um lado da praça está a sede do Centro de
Recepção Turística da Comune de Lucca, que tem atrás o Piazzale S.Donato e a velha Porta di San Donato, que acabou ficando dentro da muralha.
Entre 1200 e 1500, aqui era o ponto de partida de uma das muitas corridas
da "Colonna Mozza".
AGORA VAMOS 'SULLE MURA'
Firenze sem Ponte Vecchio sobre o rio Arno, Milão sem o charme da Galleria Vittorio Emanuele, Roma sem Vaticano e sem Coliseo, Venezia sem Piazza S.Marco e suas gôndolas, Verona sem a lenda de Romeu e Julieta, Capri sem a Gruta Azul e até Pisa sem sua torre ‘torta’. Tudo isso dá até pra imaginar... mas Lucca sem sua muralha? Jamais! Por isso é obrigatório percorrer seus 4 quilômetros, com calma, com leveza, caminhando a pé ou de bicicleta (o que é muito mais tipicamente 'lucchese').
Para entender melhor esta obra de grandioso orgulho é bom saber que ‘le mura’ tem um pouco mais de 4 quilômetros e 6
grandes portas: S.Jacopo, Elisa, S.Pietro, Vittorio Emanuele ou S.Anna,
S.Donato e S.Maria. Em tempos mais recentes foram abrindo pequenas passagens
(7) chamadas de ‘sortita’ (=saída) de onde se pode sair, e evidentemente
entrar, mas apenas a pé ou de bibicleta. Tem 11 baluartes, que são as partes
defensivas, em forma de ‘orelhas’, avançadas em relação à muralha. Aliás, o
primeiro baluarte com esse conceito defensivo surgiu na
Itália. O trecho entre cada baluarte é chamado de 'cortina' e são
12. Internamente, existem nove ‘discese’ (rampas) para chegar até a alameda no
alto da muralha, 12 metros acima do nível da cidade.
Um dos 11 baluartes da muralha de Lucca. |
Agora você já tem a mínima noção do que vai ver. E para começar, sugerimos
a Porta S.Maria. Assim que se entra,
na Piazza de mesmo nome, está a Biciclette Poli ou a Cicli Bizzarri onde
se pode alugar vários tipos de bicicletas (para duas ou mais pessoas na mesma
bicicleta, tipo triciclo etc).
Palazzo Pfanner visto da muralha. |
Com a brisa das pedaladas, chegamos ao Baluarte de
S.Croce, inaugurado em 1598. Depois passamos sobre a Porta S.Donato, o baluarte do mesmo nome, a Porta Vittorio Emanuele e o baluarte de S.Paolino, padroeiro de Lucca.
Este baluarte foi o último a entrar em funcionamento (a placa data 1642).
Aqui um monumento a Alfredo Catalani, outro compositor de óperas famosas (como Loreley), nascido em Lucca.
Na Porta S.Pietro, inaugurada em 1565 está a sede da Associação ‘Lucchesi nel Mondo’. Nas laterais, dois
leões colocados nas antigas aberturas através das quais corriam as
correntes que acionavam a antiga ponte elevadiça. As duas portas laterais,
feitas depois da principal, servem para a passagem de pedestres enquanto que a
maior ficou para os carros.
Em seguida, o Baluarte San Colombano, também conhecido
como ‘della Rosa’, por estar próximo da ‘Chiesina della Rosa’. Inaugurado em
1603, seu projeto também visava uma melhor defesa da Porta S.Pietro. No
interior deste baluarte, inteiramente restaurado em 1967, se pode percorrer
galerias, salões, salas de armas, áreas de manobras e algumas estruturas das
fortificações anteriores.
Muito próximo está o Baluarte San Regolo, inaugurado em 1605
e construído na área que antigamente era chamada de “Piaggia Romana’, em parte
destinada, na Idade Média, para cemitério das vítimas de peste, dos
condenados à morte e dos hereges. O interior do baluarte foi restaurado em
1966 e é acessível pelo Jardim Botânico.
E vale lembrar que aos pés da “colonna della Fratta” ou “colonna della Madonna dello Stellario”, erguida em 1687 e dedicada a Beata Virgem, está a inscrição “vere libera serva nos líberos”, frase que para os 'lucchesi' tem um duplo significado: “Tu que és liberta do pecado (original), conserva-nos livres" (no duplo sentido - seja do pecado, como também livres de eventuais agressores). E aqui, sobre ‘le mura’, contemplando tanta história, fica mais fácil compreender a dimensão desse conceito e dessa condição apaixonada pela liberdade!
Continuando, passamos pela Porta Elisa, planejada sob o
comando da própria princesa Elisa Bonaparte Baciocchi, e chegamos ao Baluarte San Salvatore, inaugurado em 1592,onde se encontra
uma fortificação da antiga cinta medieval, chamada o “Bastardo”.
Temos ainda o Baluarte Cesare Battisti e a mais modesta
e mais recente porta: a Porta San Jacopo, de 1930. Por
fim, o Baluarte de San Martino que também incorporou
um antigo torreão. O interior pode ser alcançado pelo ‘sortita’ di S.Martino,
onde sobre a fachada está o emblema de Lucca, datado de 1935.
E aqui estamos novamente no ponto de partida.
Deliciados. Revigorados.
Apaixonados.
Prontos para mais uma volta?
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